sábado, 10 de março de 2012

Memória vazia

Esqueci de meu nome em plena Avenida Brasil, dentro de um ônibus abarrotado de rostos suados, semblantes tensos e silêncio profundo. Foi como um estalo. De pronto me levantei e me dirigi até a porta de saída. Um tanto quanto envergonhado, desci na primeira parada. Com o olhar distante, mirava além do mar gente que se espremia e quase que violentamente se esbarrava. Não titubeei, com o passo firme segui adiante, vencendo transversais, sinais e comerciantes ambulantes. Parecia ter a pressa dos que olhavam apreensivos para os relógios, dos que se engalfinhavam por um taxi, dos motoristas a praguejar. Então, de forma abrupta, resolvi parar de andar. Não lembrava do meu nome, mas do maço de cigarros amassado no bolso esquerdo da minha calça, jamais me esqueci. Puxei um cigarro e logo alguém esbarrou em mim. Ser um corpo estranho naquela calçada com tantas pessoas em um frenético movimento até teria chamado minha atenção, mas estava mais preocupado em achar um isqueiro ou uma caixa de fósforos nos poucos bolsos que me restavam. Uma busca vã, mas que me fez perceber estar sem carteira. Algumas moedas, um chaveiro esquálido e duas notas de dez reais era o que o ínfimo universo dos meus bolsos continha. Já com o cigarro na boca e com a testa franzida, foi como sentir raiva de mim mesmo pela primeira vez na vida.

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